Desde pequenina sempre adorei comer. Ainda hoje, a senhora que tomou conta do mim dos 3 anos aos 6, o que ela se ri quando me conta que a minha mãe mandava o meu almoço para eu comer, eu comia e depois ainda comia o dela.
Sempre fui uma criança muito extrovertida, falar pelos cotovelos faz parte da minha maneira de ser. Constantemente ouvia colegas meus a chamarem-me gorda e boleia, as crianças conseguem ser muito más. Em criança, eu conseguia ignorar quem me chamasse nomes. A mudança foi na entrada da puberdade.
Via-me como a mais gorda do grupo e a verdade é que eu era. Lembro-me desde pequena que para gostar de uma foto tinha que cortar o corpo e deixar só a cara. E os comentários negativos passaram-me a afetar e o desejo de ser aceite por todos, levou-me a fazer a primeira dieta com 14 anos. Com o pouco conhecimento que tinha, optei por diminuir muito a ingestão de alimentos. Consegui emagrecer rapidamente, e as pessoas elogiavam-me. Sentes um poder enorme quando vês que tens a capacidade de mudar o teu corpo.
Cheguei a desmaiar. Quem estava à minha volta não se apercebeu, se hoje lhes perguntasse, sei que diriam que não faziam ideia. Mesmo com este radicalismo, nunca consegui ficar “extremamente” magra. E a dada altura percebi que o meu corpo não dava para chegar à magreza que desejava, pois a minha estrutura óssea não permitia.
Voltei a comer “normalmente” e engordei. Voltei a ter excesso de peso.
Então, com 16 anos, inscrevi-me num ginásio e com 17 anos, viciei-me na sensação de conseguir “esculpir” o meu corpo. Apercebi-me da importância da alimentação para atingirmos os nossos objetivos a nível estético. Altura em que decidi ser Nutricionista.
No meu ginásio era só “malta do ferro”, muitos já tinham competido e eu comecei a admirar as mulheres que competiam. Sugeri competir ao meu PT que me apoiou na parte dos treinos e em relação, à dieta ficava à minha responsabilidade (visto estar a estudar para me tornar Nutricionista).
Comecei então uma nova dieta – restritiva, com pesagem das refeições e contagem de calorias.
E em pouco tempo, surgiram os ataques de compulsão alimentar. Desde comer 1 pacote de bolachas recheadas com chocolate de uma só vez a uma caixa de cereais no espaço de 30 minutos. Quando me descontrolava, sentia que tinha que comer tudo naquela altura e depois volta a dieta. Ficava tão mal disposta, que muitas vezes, via-me obrigada a forçar o vómito. Para colmatar os excessos, muitas vezes, fazia exercício físico intenso. Ou ficava o dia seguinte sem comer nada.
Passado 2 anos, fui acompanhando atletas que competiam e apercebi-me que para competir e ganhar uma competição, não existia outra opção que não tomar hormonas. O meu PT nunca me pressionou para tomar nada, afirmando que ele próprio nunca tinha tomado anteriormente. Até descobrir que ele estava a fazer um ciclo. Eu sabia que não queria pôr em risco a minha saúde, não fazia sentido para mim. Então desisti da ideia de competir, e senti-me completamente sem chão porque foi algo que tinha batalhado durante anos e agora já nao fazia sentido.
Deixei a dieta e dediquei-me ao Pilates e Yoga (que já fazia na altura dos treinos intensos no ginásio).
Quando comecei a trabalhar e estudar, não consegui treinar durante 2 anos e engordei 10kg.
Foi uma fase muito negra, porque basicamente, não me identificava com a pessoa que me via no espelho. Não percebia como é que me tinha deixado ficar assim, tinha deixado de treinar quando era algo que tanto gostava de fazer.
Foi quando resolvi dedicar-me à minha saúde mental e física, e não ter como objetivo apenas a parte estética. E percebi que muitas pessoas à minha volta passavam e passam pelo mesmo.
Em 2019, descobri o Ayurveda. Traduzido à letra, significa “ciência da vida”, nasceu na Índia e é a medicina mais antiga no planeta. Surgiu, numa altura em que não existiam medicamentos, e a doença se tratava pela melhoria dos hábitos alimentares, de sono e de exercício. Tirei uma formação em Portugal. E em 2020, resolvi ir à Índia estudar o Ayurveda.
Finalmente, posso dizer que sinto bem com a pessoa que sou e tenho uma boa relação com a alimentação. E que estou pronta para aplicar o meu conhecimento e experiência, na melhoria da saúde de outras pessoas.
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